SEJAM BEM VINDOS

Podem matar uma, duas ou até três rosas.
Mas não podem deter a primavera.
Podem matar um, dois ou até três revolucionários.
Mas não podem conter a revolta.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

VALORIZAÇÃO EXCESSIVA DOS TEMPLOS

Sempre pensei que a placa da igreja não importava muito, acreditava que o nome da denominação não tinha poder algum sobre minha vida espiritual. Achava que o importante eram as pessoas que se adentravam a igreja. Acreditava que as pessoas realmente se importavam umas com as outras.
Já ouvi várias vezes disserem que pessoas não mudam, que caráter não se discute e que muitos vivem de forma mascarada. Nunca quis acreditar nesses ditados, no meu ponto de vista (equivocado) as pessoas não eram falsas, o “povo de Deus” era honesto, sincero, dotados de boa índole e decência. Olhava para a igreja como quem olha para Cristo. O corpo de Cristo parecia perfeito, sem mácula. Era o povo escolhido de Deus para ser a luz do mundo e o sal da terra. Infelizmente estava equivocado. Em parte, é claro.
Descobri que muitos dos que andavam comigo não eram realmente meus amigos, que as pessoas que eu admirava eram falsas e muitas vezes perversas. Vi lideres humilharem seus liderados por motivos banais. Pude ver pastores fazerem barbaridades em nome de Jesus. Difícil aceitar, mas percebi que estava sendo usado como uma marionete nas mãos do artista. Minha pessoa não era importante, o que importava eram meus talentos. Meus feitos era mais importante do que meu caráter. Podia ser o pior tipo de cristão, ter a pior índole, ter um caráter perverso e desonesto que não faria a menor importância, desde que meus feitos para levar pessoas a Cristo desse resultado.
Foi difícil aceitar a dura realidade em que vivia como cristão. É duro conviver com a solidão e a inferioridade. Sempre queremos estar por cima, em posições honradas e privilegiadas. Isso se inclui em tudo na vida, seja no trabalho, na família, nos relacionamentos, e até mesmo na igreja.
Pensava que as pessoas estavam na igreja somente por amor a Cristo, mas vi que na realidade muitas delas, inclusive eu, dava mais valor ao nome do templo do que às pessoas. Gostamos do nome, nos sentimos bem com a posição em que a “nossa” igreja se encontra na sociedade. Quanto maior a organização maior também se torna o ânimo com que muitos se aderem a ela. Eu era assim.
Converti-me numa igreja importante, sua convenção era conhecida internacionalmente. Ela era uma das mais respeitadas organizações da pacata cidadezinha do interior. Os jovens da cidade a valorizava por suas atividades e projetos. A cidade a admirava.
Ali aprendi muito. Grande parte de meu aprendizado se deu naquele local. Enraizei o nome da igreja comigo, gostava de ser chamado de membro A, o nome A me animava. Defendia a denominação com unhas e dentes. Ainda jovem decidi mudar de cidade, fui morar mais perto da capital. Mudei-me pra uma cidade bem maior do que a anterior. Na atual cidade me membrei em uma igreja de outra denominação. Fisicamente estava em outro contexto religioso, mas meu coração continuava batendo pela igreja A.
Não demorou muito e logo me entrosei com as pessoas e comecei novamente a amar o local. Rapidamente me destaquei na denominação, comecei a fazer parte de vários ministérios. Meu tempo começou a ficar escasso. Pensava somente na igreja, tudo o que fazia era pensando na igreja. Estar de bem com a igreja era meu foco principal.
Com o passar do tempo fui me destacando hierarquicamente. Primeiro fui conselheiro dos jovens, em seguida passei a ser líder de jovens e assim por diante. Quando cheguei a uma posição abaixo do pastor foi grande minha decepção. As posições estavam acabando comigo. Quando mais crescia ministerialmente mais valor queria que as pessoas me dessem. Isso não era errado, afinal de contas, quem não gosta de ser honrado? O sucesso do “sistema religioso’ depende das honras e o respeito que os liderados demonstram para com seus líderes. Ou melhor, depende de como os liderados são subordinados e obedientes as vontades de seus lideres, ainda que os lideres estejam errados.
Hoje penso como o apóstolo Paulo expressa em 1 Co 13:11,13:

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permaneçam a fé, a esperança e o amor, estas três; mas a maior destas é o amor.

Quando era menino agia como menino, pensava como menino, discursava como menino, mas, conforme o tempo passa as coisas de menino vão ficando para trás, os pensamentos vão mudando, os alicerces das verdades absolutas vão ruindo, coisas que defendiam com entusiasmo já não damos tanto valor hoje. Converti-me com 13 anos de idade, minha cabeça era de um jeito, pensava de uma forma, agia de uma maneira totalmente diferente da que ajo hoje. Certezas do menino de 13 anos já não existem mais. E tenho certeza que assim como sumiu aquele menino também sumirá o homem de hoje. O homem que atual existe desaparecerá dando origem a outro mais maduro e sensato. O atual murcha com a erva daninha do campo e em seu lugar brota flores noviças e vistosas.
A cada dia precisamos caminhar em busca do conhecimento eterno. Precisamos almejar o eterno, viver o eterno. Não um eterno distante, mas presente no nosso dia a dia. É preciso desvendar o enigma da história humana. Chega de uma fé supersticiosa, basta de esperança de prosperidade. A fé e a esperança sem o amor é como a chuva que cai no canto da sarjeta e vai perdendo sua vitalidade se dissipando até cair nos buracos subterrâneos das esquinas das calçadas.
Minha indignação religiosa foi dando seus primeiros brotos. Já não conseguia mais aceitar tudo com óbvio e correto. Muitas coisas das quais amava e defendia com vitalidade passei a repudiar. Meus sermões começou a incomodar a liderança maior. De membro submisso e “ecologicamente correto” passei a ser tachado de rebelde e herege. Como minhas pregações e meus ensinamentos começaram a causar discórdia entre os membros não tive outra opção a não ser sair da igreja, antes que me expulsassem.
Quando fiquei sem igreja-templo para congregar pude me deparar com a dura realidade que vivia. Descobri, ou melhor, abri os olhos para Cristo. Enquanto estava congregando regularmente nos templos, freqüentando todos os cultos, participando das campanhas, fazendo visitas e pregando o evangelho não conseguia enxergar o que realmente estava vivendo. Tudo parecia estar correto, eu me achava um crente-membro “perfeito”.
Ao sair da igreja por descontentamentos doutrinários não deixei para trás apenas o templo, mas também os vínculos de amizade que possuía. Pessoas que diziam me amar simplesmente desapareceram. Vi pessoas que freqüentavam minha casa virarem as costas para mim me tachando de herege e egoísta. Jovens que professavam que me admiravam agora pareciam que me odiavam. Posso contar nos dedos de uma mão as pessoas que me apoiaram e continuaram a andar comigo.
Com isso tive certeza que Cristo já não era mais o foco principal da igreja. O “status quo” que a denominação possuía se tornou mais relevante que a palavra viva e eficaz de Jesus Cristo. Os membros (nem todos) lutavam pela causa da igreja e não de Cristo. A luta era denominacional. Os ensinamentos bíblicos eram somente pressupostos para encher a igreja de pessoas. E não posso esquecer de que quanto mais pessoas mais arrecadação. A fim de aumentar a arrecadação pastores e lideres aderem as leis da administração de Marx, Ford, Toyota e outros. Se a igreja não tiver um bom plano de marketing ela não conseguirá viver em meio à competitividade religiosa. Igreja e empresa são parceiras e concorrentes.


As Américas Central e Sul, têm emergido, tanto em número, quanto em denominações, o que nõ é de todo bom, por haver na quantidade a impossibilidade de centralização e, portanto, abrirem-se janelas para ensinos errôneos, cobertos de “boas intenções”, aflore. (JANSEY, Túlio. Filosofia e Teologia no Século XXI – Da gênese à contemporaneidade. Press Abba, São Paulo, 2004. Pág. 12.)


Com esse acontecido pude ver o quanto à igreja de Cristo está desvirtuada do caminho da graça. Valorizamos mais o templo do que as pessoas. Basta notarmos qual o grau de preocupação que temos com os que saem da instituição. Vi pessoas entrarem na igreja, cooperarem com o melhor de si e saírem com se nunca tivessem entrado. Vi homens e mulheres se doarem de corpo e alma ao labor eclesiástico e irem embora como se nunca tivessem cooperado com nada. Meu sentimento de indignação não é isolado. São muitas as pessoas que se encontram como eu. Doei-me na igreja, organizei projetos, cuidei de jovens, preguei nos cultos, evangelizei, cooperei como evangelista e sai da igreja como a água se esvai do vaso sanitário quanto puxamos a corda do reservatório.
É fácil falar que templo não tem importância, é difícil aceitar que nos importamos mais com o templo do que com as pessoas. Para o bem do templo pessoas supostamente insignificantes são deixadas de lado e desvalorizadas. Quando não ridicularizadas. Para preservar a boa imagem da igreja líderes passam por cima de sentimentos alheios não se importando com a destruição espiritual que estão causando. “Ainda bem” que a justiça brasileira não intervém tanto no meio religioso. Se interviesse contaríamos facilmente quantas igrejas estariam com as portas abertas.
Igrejas que deveriam se preocupar com o bem estar dos indefesos, dos rejeitados, dos desvalorizados, dos marginalizados socialmente; infelizmente são as que os exclui com mais facilidade. Amor ao próximo é utopia de um velho homem que viveu a dois mil anos atrás. Doar-se é para tolos, é ilusão de um anseio futurista. O que importa é ver os templos cheios, o tipo de pessoa inserido em seu contexto social não faz tanta importância, desde que ela esteja nos cultos.
Não agüento mais esse tipo de cristianismo, estou enfadado desse meio religioso. É preciso que alguém denuncie as barbaridades realizadas em nome de Deus para que se evitem os mesmos erros do passado, onde pessoas bem intencionadas usando o nome de Deus matarem inocentes, torturaram os contrários a fé, queimaram supostos hereges e causavam medo até no diabo.
Só expondo os erros é que conseguiremos viver na liberdade de Cristo e não na lei. A lei nos aprisiona, o legalismo nos cativa, mas a graça redentora de Jesus nos liberta, nos dá vida e vida em abundância. A graça nos faz pessoas livres. Somente quem vive na graça consegue se libertar das honrarias templárias. Somente com Cristo podemos viver a vida feliz e longe das amarras do legalismo.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

AS BEM-AVENTURANÇAS PARTE II

Nas bem-aventuranças temos um modelo a ser seguido. Jesus revela que tipo de cristãos e de igreja ele quer que sejamos. Devemos ser cristãos firmados em Cristo. Precisamos andar como Jesus andou. É obrigação da igreja e de cada um se posicionar com defensores dos desprivilegiados socialmente e espiritualmente[1].
A igreja tem por obrigação suprir as necessidades espirituais e sociais de seus membros. Na carta que Tiago escreve para as doze tribos que andam dispersas no capitulo 2 dos versos 14 aos 26 ele trata sobre a questão espiritual e social. Tiago diz que a fé sem obras é morta, se tivermos fé e não realizarmos as obras de nada se aproveita nossa fé. Ela não serve pra nada. Tiago iguala fé e obras. Em outras palavras, de acordo com Tiago a fé tem o mesmo peso que o social.


Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?
E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesmo.
Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé.
Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. (Tiago 2:1-17, 24,26 – Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, Versão Almeida e Corrigida, Edição de 1995).


Não há proveito algum a igreja ensinar a palavra e não suprir as necessidades dos membros. Quando me refiro a igreja não estou me referindo ao sistema eclesiástico e nem tampouco ao templo. Refiro-me ao grupo de pessoas que se unem para adorar a Deus. É obrigação de cada um de nós – como noivas de Cristo – socorrer aos que estão em situações difíceis, sendo eles processante da mesma fé ou não.
No sermão da montanha Jesus usa a expressão limpos de coração. Limpo de coração não significa jamais errar, nunca pensar em bobagens ou nunca pecar. Ser limpo de coração é viver em novidade de vida com Cristo (colocar o novo que se renova) dia após dia. É aprender a se levantar após uma queda, a chorar e não prostrado. Limpos de coração são pessoas que não se fazem de vitimas das situações, mas que encaram seus medos, suas duvidas, erros e imperfeições de frente, sabendo que é Cristo quem nos aperfeiçoa a fim de sermos aprovados por Deus.
Os filhos de Deus são pacificadores. São agentes da paz. No tempo da graça todos os que aceitam a Jesus como unico9 e suficiente salvado são considerados filhos de Deus (Jô 1:11-12). Os filhos de Deus são homens e mulheres que não vivem segundo a vontade de suas carnes (Jo 1:13), mas de Deus. A carne luta contra o Espírito, e Jô Espírito, contra a carne (Ef 5:17). Os filhos de Deus são cumpridores e obediente à palavra, são cheios do Espírito Santo, e, de acordo com Mateus, pacificadores.
Os filhos de Jesus promovem restituição da paz nos lugares assolados, propugnam a paz universal.
É triste ver tantas pessoas que dizem ser cristãs não terem o mínimo de tolerância e compaixão. Pessoas vingativas, egocêntricas, avarentas, usurpadores. “Cristãos” que se esqueceram que não estão mais no tempo da lei. Olho por olho e dente por dente saiu de cena. Entra em cena o virar a outra face.
Pior ainda é quando essas pessoas se encontram em lideranças eclesiásticas. Muitos líderes estão sofrendo perseguições, mas não é por causa da justiça. De acordo com as bem-aventuranças é mais do que feliz aqueles que sofrem perseguição por caudas da justiça.
São muitos os lideres que estão sendo perseguidos porque são corruptos, amantes de si mesmos, mentirosos, aproveitadores de situações. Ele sempre tem desculpas na ponta da língua para se livrarem de acusações, para esconderem seus erros. Sempre estão certos, nunca erram questioná-los é rebeldia.
Devemos sofrer perseguições porque estamos fazendo a diferença no mundo falecido em pecado, desigualdades sociais e distante de Cristo. Devemos ser injuriados porque incomodamos opressores e defendemos os injustiçados – tanto secularmente quanto de dentro da igreja. Devemos padecer por mentiras alheia, não pelas próprias.
É hora de revermos nossos conceitos cristãos, reavaliarmos nossa fé e examinarmos com atenção nossas obras.
Que o sermão da montanha, também conhecido com bem-aventuranças possa ser um modelo de vida cristã a ser seguido (obedecido) e uma realidade presente em cada um de nós.
[1] Espiritualmente no sentido de exclusão eclesiástica. São pessoas vistas com preconceito, tachadas de pecadoras e muitas vezes até de contrárias as doutrinas. São pessoas pobres de espírito que não são aceitas pelos “ricos de espírito”.