SEJAM BEM VINDOS

Podem matar uma, duas ou até três rosas.
Mas não podem deter a primavera.
Podem matar um, dois ou até três revolucionários.
Mas não podem conter a revolta.

terça-feira, 28 de julho de 2009

É PROIBIDO PENSAR

É proibido pensar minha gente. Os dogmas religiosos estão fincados em tradições medievais. Pensar é proibido! Questionar os leigos é inadmissível. Ter dúvidas então: sem palavras.
Recordo-me como se fosse hoje o dia em que sai de uma determinada igreja por apenas pensar e ter dúvidas.
Quando entrei na igreja fui bem aceito por todos, inclusive pela liderança. Não demorou muito e logo me destaquei. Estava feliz, pois fazia o que mais gostava – ensinar as verdades bíblicas às pessoas. Após um tempo fui convidado para ser evangelista, no começo não estava muito animado com a idéia, mas tinha um chamado e não gostaria de fugir dele.
Aceitei o ministério e confesso, me senti muito bem. Parecia que estava fazendo a coisa certa. Pregava na igreja, ajudava na evangelização, organizava eventos e assim por diante. O meu único erro foi que depositei muita confiança no homem, e me esqueci de que o homem é falho e muitas vezes egocêntrico.
As coisas estavam indo bem, até que resolvi fazer faculdade, e o pior de tudo – filosofia. Para mim a filosofia foi uma benção, me ensinou a pensar, fortificou minha fé. Tive a oportunidade de conhecer os pensamentos de pessoas contrárias a fé cristã. E tudo isso serviu para que eu pudesse entender que não há nada melhor do que ser servo de Cristo. Pois Cristo não se enquadra em conceitos e tabus humanos. Ele é a verdade encarnada.
O que aconteceu foi que comecei a incomodar a liderança da igreja. Minhas pregações foram tidas como heresias. Gradualmente fui sendo deixado de lado. Já não estava mais dando abertura aos cultos, e muito menos pregando. Fui deixado a mercê da sorte. Meu ministério já não era mais valorizado; comecei a me sentir oprimido.
Procurei o pastor da igreja e tivemos uma conversa “saudável” (entre aspas porque para mim não foi tão saudável assim). Nessa conversa ele confessou que estava preocupado comigo, disse que eu já não era o mesmo de antes. De acordo com suas palavras, estava preocupado comigo porque comecei a fazer filosofia, e que após ter entrado na faculdade comecei a pregar coisas que a igreja não entendia.
Compreendi o argumento do pastor e decidi corrigir meus erros desde que ele mostrasse na bíblia que eu estava errado. Felizmente ele não conseguiu fazer isso. Pois na verdade ele sabia que eu estava certo, mas estava incomodando ele.
Sem alternativa apelou para o fato de eu ter vindo de uma igreja tradicional e a dele ser pentecostal. Começou a me indagar o que eu era, se tradicional ou se pentecostal. Fiquei de saia justa, pois quando se rotula uma pessoa é mais fácil “derrubá-la” (no bom sentido). Primeiro é preciso rotular para depois se desfazer das ameaças (entenda ameaças como idéias contrárias).
Resumindo a história, após a conversa tivemos de nos separar. Ele continuou na igreja e eu fiquei vagando por um tempo.
Aprendi muito com esse episódio marcante. Aprendi que as pessoas preferem massagear o ego a ouvir palavras desafiadoras. Aprendi que as pessoas querem barulho e “reprepré” [1] a ouvir uma palavra sadia. Aprendi que as pessoas preferem receber favores de Deus a ajudar outros irmãos a se levantarem. Aprendi que para muitos tomar posse da benção é mais importante do que abençoar. Aprendi que viver cercado de dogmas e certezas para a maioria dos cristãos é mais confortante do que uma vida de dúvidas e incertezas, mesmo que os dogmas sejam sacrificantes. Aprendi que viver numa fantasia para muitos é mais gratificante do que enfrentar a realidade quotidiana.
Saímos da Idade Média temporalmente, mas continuamos fincados nela culturalmente. A igreja infelizmente ainda não se libertou dos costumes medievais. Pensar continua sendo opróbrio. Ensinar o povo a pensar é uma desonra, quem assim age é tachado de herege. É hora de reavaliarmos nossas crenças e rompermos com dogmas que aprisionam a mente humana e nos remete a tornarmos marionetes de líderes gananciosos, egoístas e soberbos.
Jesus não nos ensina a aceitarmos tudo com prontidão, antes ele nos manda observar a lei. É preciso julgar todas as coisas e reter apenas o que for bom (1º Tessalonicenses 5:21). É preciso pensar. Chega de aceitar tudo o que se vê no meio evangélico como benção. É hora de rompermos com falsas promessas religiosas e nos apegarmos ao Cristo redentor. Chega de “pais e mães de santo cristãos” que manipulam vidas por meio de promessas e revelações. É necessário expor (abandonar) líderes cristãos que usam da lei da probabilidade com o intuito de manipular pessoas a agirem conforme suas vontades. Tão parecendo mais astrólogos do que servos de Cristo.
É hora de começar a pensar nos atos realizados. Pensar na maneira com estamos agindo diante de Deus.

Como diz Romanos 12:1-3:


Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um.


É preciso se apresentar a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável. Um sacrifício agradável não pode ser penoso e desgastante. A religião tem desgastado ainda mais os oprimidos e os sobrecarregados. Caro leitor, se você é uma dessas pessoas que tem sofrido tentando agradar a Deus é hora de pensar a respeito de qual senhor você está servindo, pois o fardo de Cristo é leve e o seu jugo é suave (Mateus 11:30).

Que Deus os abençoe.
[1] “Reprepré” é uma gíria pentecostal que pode significar barulho e gritaria. É falácia – O ruído de vozes de muitas pessoas que falam, sofisma ou engano que se faz com razões falsas ou mal deduzidas. É uma forma de mascarar a realidade iludindo as pessoas com palavras persuasivas de “bênçãos” e milagres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário